O MENINO PERDIDO DE ANÁLION
Aqui todos disputam para ter marcas,
ficam loucos correndo atrás de preços, antepreços, bompreços;
os prédios são construções chocantes de grande
onde homens perdem tempo contando clipes...
As mulheres andam com bolsas enormes vazias,
porque têm medo de serem petrificadas nas ruas;
usam óculos gigantescos que mais parecem antenas de satélites,
ainda assim, vão felizes na ilusão moderna da belle epoque:
Aqui tudo é mais estranho, louco...
Em Análion tudo é diferente: a lua é o sorriso aberto das pessoas,
os pássaros são gotas de seiva do ar,
as flores são tão vivas que andam no horizonte!
Quero ir para Análion ver os rios de pedras
para deitar meu corpo enganado há tanto
sobre rochas pontiagudas e desfrutar da verdade do prazer
—aqui o prazer está enrolado em ataduras de cinza;
ficar à tarde olhando os campos de ouro — sem pavor—,
e nadar nas fumaças dos trens, sem medo...
Em Análion não há dor, o corpo é uma extensão primeira da alegria,
uma parte fundamental da felicidade
e não há motivo para festas extremas, para bebidas extremas,
porque o que nos falta está livre em toda parte extrema
em cachos azuis...
Quero ir para Análion ver Anaida, há tempo quero encontrá-la,
e lá me espera em toda tarde completa
para vermos os beija-flores nascerem do sol,
as andorinhas saltarem das águas para caçarem os cachalotes alados!
Em Análion os jacarés são bancos feitos para se deitar
nas noites claras da razão; quero voltar para Análion,
tenho vontade de viver;
aqui não posso andar, não posso ser, não tenho runas:
rio sem água, espumas sem bolhas, casa sem janelas...