O Olhar da Besta

A Besta

1

O olhar

I

Os seus olhos têm a chave de todos os enigmas

Impossível não tremer, sorrir e chorar ao fitá-los

Todos os segredos vêm à tona, o medo e a euforia

Suga completamente aqueles demorados no olhar

II

Não são poucos os relatos do povo e de gente

Da alta burguesia de que muitos que estiveram

Nessa situação não conseguiram mais despertar

Ficaram pungidos, como que atraídos e uns puxaram

De suas armas e as fizeram falar com seus corações

Como se aqueles ouvissem vozes de além-mar

III

Outros com facas se riscaram, como antigamente

Faziam-se com gado em velhos matadouros

E cortavam impulsionados por um impossível desejo

De verem seus sangues o chão pintar, impraticável

Contê-los, esses cada um tinha a força de mil homens

IV

Já outros encantados com o olhar da besta que também

Não conseguiram fugir, se esganavam a si mesmos

Com as próprias mãos, com as próprias mãos rasgavam

Seus corpos e vazavam seus olhos, deglutiam seus dedos

E suas línguas... Uma cena que comoveu as autoridades.

2

... Uma cena que comoveu as autoridades.

V

O povo queria uma resposta, os despovos, apavorados

Que se pode fazer para apreender tal criatura assim?

Famílias decepadas, amores desfeitos, moças ao suicídio!

Onde vive, de que vive um ser assim sendo como dizem?

As autoridades precionadas estavam

decididas a darem um jeito nas coisas.

VI

Depois de se debruçarem sobre o caso,

Estrategicamente resolvem encontrar

A primeira vítima se fosse possível...

Praticamente não havia documentação,

Apenas os laudos periciais médicos sobre as vítimas

E depoimentos nada confiáveis...

Uma das alternativas foi ir a campo,

Mas ninguém quis se expor

Tentaram interrogar a quem se encontrava

Nos pontos de ônibus, porém nenhum êxito.

VII

Adentraram nas praças, acordaram

Mendigos barbudos de sorrisos enferrujados,

Dentes aleatórios, assustados, desconfiados...

E ficaram sabendo através destes que sim,

Vez ou outra viam este ser,

Mas não sabia dizer se tinha sido em sonho

Ou em ébrio sono...

Alguns mendigos também relataram

Que quando a fome

Os devoravam até as culminâncias da morte,

Eles também achavam que a viam,

Se é que se era do mesmo ser de que se falava

Mas, ao desdesmaiar estavam mais fortes.

Sem fome... Coisa da cabeça da gente...

VIII

Foram em boca de merlafumocrack.

Chegaram apaziguando, todavia houve sobressaltos,

Pernas de neguim assoviavam na escuridão...

Tergiversaram com secos do crack,

doidões, e tal... Ninguém queria falar nada,

Pensaram ser aquilo deles algum tipo de nova nóia nova...

IX

Alguns até perguntaram qual o nome do produto,

outros levaram uns tapões

“Produto o que bicha! Porra! burra!”

“Calma, calma, calma”...

Não viram ninguém comentar nada de novo por aqui,

Nada de estranho?

“Óia véi nóz cunhece todas nóias,

mas essa daí não”

“O Esquelético

é que andou mei estranho como

o senhor disse aí, até sumiu... Vendo anjo...

Sei lá, cara tá alheio, mas nu tá puraqui não.

Vive agora é de praça em praça”

X

Noutro setor,

Estudavam e viram que os primeiros casos

Da Loucura Repentina,

como vaticinaram os psiquiatras

E outros especialistas

que ajudavam no caso,

Não tinham muito tempo, logo

o “monstro” ou era muito jovem,

Ou não era endêmico de ali, daquela

pacata cidade encostada no rio.

Mas podia ser as duas coisas...

XI

Um batalhão,

Homens já afastados do dever da profissão,

Com o peso de inúmeras mortes nas costas e

Nas narinas, veias e pulmões e músculos, e olhos

Pelos e cus, todos os tipos de drogas

Homens quase sem almas

Que matavam ratos só de vê-los

Foi designado apara encontrar

E eliminar a Besta...

XII

Logo carrões pretos com facas e caveiras

Espantavam a cidade

Paravam aqui e ali,

Armas para fora,

Uma cara de mal, outra... E seguiam...

Circularam, rodaram, fumaram, injetaram,

Passaram por cima de cachorros,

atropelaram idosos, e crianças, professores

e gestantes...

XIII

armas para foram,

uma cara de mal, outra de pitbull... e cantavam pneul...

Estupraram, comeram veados,

E deram-lhes umas bordoadas,

Encontraram riquinhos com bombas,

Esbofetearam-lhes, filhos da puta!

Fica fumando isso depois tá dando o cu aê!

Tiros, pô!pô!pô!pô!!!!

Viram um golf dando sopa de madrugada,

Interceptaram o motorista, era estudante,

Tiro na cabeça, corpo na estrada do arroz...

Armas para fora,

Uma cara de mal, outra pior... e fugiram...

Aêêêêêêêêêêêêêêê!!!!!!!!

XIV

Armas para foram,

Uma cara de mal, outra...e seguiam...

Enfim, em frente a

Matriz da praça Brasil,

Três deles parara, UôinnUôinnUôinn...

Solaparam um resultante

Da merla, crack e outras orgias poéticas

E este lhes falou da besta que lhe aparecia...

XV

Falou-lhes da besta lhe aparecia em sonhos,

Que desde então a melhor coisa era dormir...

Que não a iam encontrar em lugar nenhum

Porque ela estava em todo lugar e

Em nenhum lugar também...

Que ora ela lhes aparecia por ela mesma,

Que, que, que não fizessem mal a ela,

Queque, que Mal estava em cada Um,

Quequeque só aqueles que não sabiam

Perdoar,

Perdoar principalmente a si mesmos,

É como já estavam se perdiam...

XVI

Safanões acompanharam os sinos da igreja...

Largaram O Esquelético Profeta

e zumbizaram noite adentro, noite afora, no nada...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 14/05/2010
Reeditado em 03/01/2024
Código do texto: T2255891
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.