Memórias Solares
Minha história se inicia
Na mais antiga das guerras
Antes de existirem os dias
Muito antes de existir a Terra
Eu era apenas uma parte pequena
De uma grande massa primordial
Que desfez-se em duas partes:
Material e Antimaterial.
Se hoje dois grãos de areia
Contivessem o nosso poder
Seu choque daria à cidade inteira
Meses de energia para viver
Mas eis que então nada disso havia
Nem cidades, nem grãos, nem versos
Somente a batalha que ardia
E o que dela resultou, o Universo.
Nasci nesse dia, quando a batalha findou
O recém nascido Cosmos foi assim povoado
Com a luz de meus irmãos e irmãs brilhou
E com nossos filhos, foi decorado.
Cada um de nós procurou seu lugar
E consigo levou seus rebentos
Eu aqui onde estou, vim morar
Há seiscentos elevado a seiscentos
Com meus nove em torno de mim, a girar
Uns mais rápidos, outros mais lentos
Certa vez, na terceira, minha filha Gaia
Percebo um movimento, uma coisa estranha
Criaturas, tão passíveis de falha
Curiosas, numa eterna sanha
De saber, de viver e entender
Até nome, vejam só me deram
(E que eu sou amarelo, disseram...)
Não podiam olhar para mim
Sem ficar cegos, a vida é assim
Mas de tanto tentar inventaram
Outros modos, e me pesquisaram
Já fui Hélios pra eles, Apolo, Utu
Surya me chamaram, e Sigel, Ameratsu
Já fui deus, já fui praga, ou redenção
Hoje serei talvez uma ambição
Mas independe, fico aqui intrigado
Com esses que habitam minha filha
Mas que ousaram olhar pro meu lado
E calcularam que um dia, até eu assim
Vejam só, eu o Sol, até eu.
Veria chegar o meu fim.