POEMA DO ANO 2.100
Não há mais tempo, filho;
Acabou o sonho,
A utopia,
tudo acabou;
Pra que lhe ensinar o certo,
Se o errado ocupa todo o espaço ao mesmo tempo?
Lhe ensinar a Bíblia, o Alcorão, o Catecismo...
Se todos sabem apenas operar mísseis e painéis de usinas nucleares?
Diga-me, filho!
Acabou a fé;
Pra que lhe falar de Papai do céu,
Se ninguém mais crê nele?
Rirão de você, filho.
Pra que lhe falar da paz, do Amor,
Se deles só existem vestígios?
Confira no computador;
Isso mesmo, filho!
Acabou o verde, a vida...
Pra que lhe ensinar a plantar, a pescar,
Se já não há terra férteis?
Os rios, os mares e os peixes estão mortos;
Lamento por eles, lamento por você, filho;
Acabou a esperança;
Pra que lhe falar do futuro, de seu futuro, filho,
Se já o estamos vivendo?
Dependerá apenas de uma nova máscara de gás;
É verdade, filho;
Acabou tudo, tudo acabou!
Pra que lhe ensinar a sorrir, chorar, amar...
Se nos tornamos máquinas
E todos os valores e sentimentos humanos se acabaram?
Não adiantará nada, filho;
É isso, filho;
O mundo acabou
E você não deveria ter vindo a ele;
Desculpe-me por tê-lo trazido, filho;
Pena que não o conheceu antes;
Pode vê-lo nos filmes e documentários antigos;
Agora só há destroços;
Podíamos tê-lo poupado, mas não o fizemos;
Perdoe-nos, filho!