Furacões de furacões...
E essa vontade
Que vem
E que vai
Essa desvontade
Essa ânsia de não sentir vontade
Essa agonia acumulada
De todas as vontades mortas
Aquelas que apenas existiram enquanto idéias,
Ou nem isso,
E que se foram
E que se sublimaram
Antes mesmo que o cérebro
As visse perfeitamente,
Essas vontades fantasmas,
Essas incorpóreas
Como seres compostos
Apenas de ar
Disformes
E doentes
Que vem
Que vão
E essas vontades indefinidas
De ir longe
De se imaginar bem longe
E olhar para traz
E perceber que não fomos
E outro é que se foi
E outro é que pensa
E que tem vontades
Sonhos
E nós
E nós lá atrás
Muito atrás
Tão atrás que não lembramos mais
De onde ficamos
E passamos a ser só isso
Isso que vem há tempos
Se distanciando de nós
Como se estivéssemos dormindo
E sonhando
E dentro do sonho
Nos encontramos
Nós nos vendo
Nós, sem sermos nós,
Conscientes disso,
E nós num mundo paralelo
Vendo a nós mesmos
Sem podermos falar com aquele que julgamos sermos nós...
E nós?
Onde ficamos,
Onde nos perdemos,
Quando nos traímos
A ponto de causar assim tamanha ruptura
Com toda nossa gente,
Que é todo nosso ser...?
E essa vontade de fugir,
De permanecer e suportar
A dor de maneira mais que resignada
Apertando os dentes
Sem grito,
Sem medo,
Num silêncio profundo,
Numa solidão indevassável?
E isto que vai surgindo aqui
Essas letras naturalmente
Se combinando
Como se fosse um recado
Uma mensagem
De um ser que já não somos
Para nós mesmos,
Por quê?
Ham?
Por que não apenas viver
Assim como se dobra uma esquina e se ver longe
Todo o desenho da rua,
Por que nunca se terminam as esquinas?
Dobra a esquina Sebastião...
E não se para mais de virar para a esquerda para a direita
Cada passo é uma decisão,
E as portas que entramos
São para outras cidades
Outros estados
Culturas e povos muito distintos
De nós...
E nós?
Paramos?
Não, é impossível parar,
Pois há sempre uma vontade
De parar
E outra maior de seguir
E outra ainda maior de entender,
De voltar
De adiantar novamente
De compreender
Não se sabe claramente o quê
Por que isso é o que está dentro de nós
E se põe fora também,
E o vazio se faz
E o volume aumenta
E assim
É que se anda nessa e em qualquer vida
Indeciso
Guiado pela Tormenta...
Mas aqui eu vou deixar meu coração
E contigo ele poderá ser guardado,
Como se eu não existisse,
Eis que é assim que me despeço
E violentamente entro,
Sublimado e sublimando
Nesses furacões de furacões...