ECCE HOMO

Querem-me pertença, prisão,

Renúncia, coisa,

Sustento de fragilidades,

Unguento para futuras saudades,

Algo de mim, que seja outro,

Que não este que vos escreve,

Que chora, grita, revolta,

Propõem, alimenta e diz não,

À alma mais desatenta;

Querem-me sobretudo,

Se digo veludo,

Como se o mundo lá fora,

Fosse só isso,

Um ponto preciso,

Um auto flagelo,

Em nome de uma preponderância

Implícita e irreversível;

Mas não vedes vós que,

Prostituta

Ou

Indigente,

Anjo

Ou

Demónio,

Opinável

Ou

Desaconselhável,

Opróbrio

Ou

Altruísta,

Eu sou muito mais

Do que isso,

Pois que sou todo o mundo

E toda a gente?

Querem-me poeta,

E ainda me trazem uma gaveta?

Jorge Humberto

(15/11/2003)

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 16/05/2006
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