O Coveiro
Como tu disseste meu amigo,
Sou eu o último a ti olhar.
Finalmente irá descansar,
Por que viver mais que
O que viveste?
Por que prolongar mais
Que o necessário essa caminhada?
Durma velho amigo,
Ta aqui tua eterna casa,
Desfaça-te porque teus sonhos,
Todos a se realizar, vão contigo...
Existe melhor bagagem?
Não se preocupe,
As contas que deixaste,
De quem irão cobrar?
E se houver descendentes,
Os filhos que deixaste,
A vida, esse sofrimento,
Também cuidará deles.
Não se preocupe.
E se não tiveste filhos,
Para que tê-los?
Para que legar a nossa carne
O sofrimento, o sal e sol do nordeste?
Contigo vai tu,
Só tu vás contigo,
Porém, agora tens um abrigo,
E eu, que não consigo pagar as contas,
Puxo o lençol para cobrir
O rosto de mais um amigo...
Desculpa, tenho que te cobrir...