O Coveiro

Como tu disseste meu amigo,

Sou eu o último a ti olhar.

Finalmente irá descansar,

Por que viver mais que

O que viveste?

Por que prolongar mais

Que o necessário essa caminhada?

Durma velho amigo,

Ta aqui tua eterna casa,

Desfaça-te porque teus sonhos,

Todos a se realizar, vão contigo...

Existe melhor bagagem?

Não se preocupe,

As contas que deixaste,

De quem irão cobrar?

E se houver descendentes,

Os filhos que deixaste,

A vida, esse sofrimento,

Também cuidará deles.

Não se preocupe.

E se não tiveste filhos,

Para que tê-los?

Para que legar a nossa carne

O sofrimento, o sal e sol do nordeste?

Contigo vai tu,

Só tu vás contigo,

Porém, agora tens um abrigo,

E eu, que não consigo pagar as contas,

Puxo o lençol para cobrir

O rosto de mais um amigo...

Desculpa, tenho que te cobrir...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 30/04/2006
Reeditado em 30/04/2006
Código do texto: T147681
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