MEU DIA DE PÁSSARO
É cedo e eu, me atirando das encostas,
busco a imensidão do ar quieto.
Minhas turbinas estão silenciosas.
Não há turbulência.
Avisto aldeias simples. Gente que vive.
Mais adiante, fumaça escura.
Os homens são escuros, penso, trágico.
Vejo foguetes a disputar comigo os espaços do céu.
Eles levam bombas e matam crianças.
Eu levo amor em minhas avoanças.
Nunca entendi essa desavença entre os desempenados.
Brigam por causa de pedaços de terra.
Eu não brigo por nada.
Meu dia de pássaro é assim,
não vejo só belezas, nem paisagens azuis.
Vejo gente se machucando e fuligem cinza.
Não sei se vale ainda a pena voar.
A ter que enxergar tantas coisas tristes,
prefiro me amoitar no meu ninho.
Prefiro esperar a inteligência voltar.