A Rua

I

Estava eu andando

Ia por uma rua silenciosa

Sem nada, rua triste, abandonada

Eu não sei de onde vinha

Só sei que era madrugada

E comecei a pensar no que existe

Imerso na substância do nada

A vista ia longe

E luzes formavam entradas

Pela escuridão do caminho

Confrontando a madrugada

Estava um pouco úmido

Era denso o ar que respirava

E eu demorava a chegar

Ao lugar que procurava

E eu dobrei muitas esquinas

E rodei muitas vezes

Mas sempre à mesma rua voltava

E era para um mesmo lugar

De onde se via uma entrada

E então eu pensei,

O que é, o que acontece?

O que há nesta Madrugada

Em que procuro meu caminho

E não encontro nada?

E então comecei a olhar

Rumo àquela escuridão

Que do resto se destacava...

Curioso eu me aproximei

Para ver o que se passava...

E fui me acercando de espreita,

Assim bastante devagar,

Quando percebi algo no ar

Que de mim se distanciava,

Que ia e depois se aproximava...

E eu então falei receioso,

O que há aí, precisa de ajuda?

Mas teria sido melhor

Se não tivesse perguntado nada...

II

O ar de súbito se revolveu

E do ermo alguém gritava,

Somos nós!

Oooooooooooooooooooooooooo...!

Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa...!

Somos nós seres da madrugada!

Oooooooooooooooooooooooooo...!

Nós estamos te seguindo,

Oooooooooooooooooooooooooo...!

Te guiamos até nossa morada

Oooooooooooooooooooooooooo...!

Para que nos ajude a contar

Oooooooooooooooooooooooooo...!

Como nossa vida foi ceifada!...

Eu não soube o que sentir

E a alma estava depenada

Pensei, mas nao tinha aonde ir

No vazio da rua abandonada...

E a voz assim continuava,

Fique onde está! Nossa

Substância não será revelada

A teus olhos tão estranhos

Que alcançam almas penadas!

Nós um dia fomos como tu

E gostávamos da madrugada

Mas isso era uma escolha,

Víamos as luzes da alvorada,

Mas hoje estamos presas

As áreas não iluminadas

E ficamos observando

Os de esquisita caminhada

Somos para ti uma lição

Tem cuidado alma quebrantada!

Pois podes vir de ai pra qui,

Pode te refazer a madrugada...

Aconteceu assim também comigo

Era um ser de vida desavisada

Que adavam por esses caminhos

E seguia sem crer quase em nada

Porém, um dia enquanto andava

No caminho da terrena morada

Surgiu um ser de quimeras

E me levou em meio a revoadas

Para andar por outros mundos

Seguindo trajetórias apagadas...

E quase todos que aqui estão

Tiveram igual sina mal-fadada

III

E o que quereis mais?

Falei, já quase sem medo,

O que quereis que vos faça

Almas sem nenhuma morada?

Quereis mandar recados?

Dar algum aviso pra parentada?

Quereis que vos reze missa

Pra aliviar a carga pesada?

E uma a mesma voz respondeu,

Nada disso nós queremos

Ooooooooooooooooooooooo...!

É outra a nossa jornada

Que pode começar contigo

Agora, nesta madrugada...

Ooooooooooooooooooooooo...!

Sei que tens papel aí

Andas com bolsa pendurada

Escreve o que vir e ouvir

Das almas agora silenciadas

IV

Precisamos do teu corpo

Para terminar nossa caminhada

E tu foste observado porque sempre

Fica pelas estradas

A andar onde não se ver nada

E coloca nesse papel

A historia que vai ser contada

Sobre a malvadesa de um homem

Que tem uma vida desrregrada

Ele veio aquela casa onde

Vivia alguém no inicio da caminhada

Que partiu cedo sem quer

Por causa daquela alma desgraçada

E ele se aproximou da família

E depois covardemente matou

Para oferecer ao chefe sombrio

Que de lá de cima despencou

E caiu aqui na terra

E o mal aqui se criou...

Escreve aquela gente

Onde ele a enterrou

Está aqui a sua alma

Que tudo nos revelou

E não pode ir embora

Porque não terminou

Seu estar na terra

De onde o monstro lhe tirou

E que só vai partir

No momento que se marcou

O terminar de sua vida

Que aquele homen adiantou...

Vê, ela que quer se revelar,

A mostrar-se a ti se animou

Não olhe pros seus cortes

Faltam-lhe muitas partes

A cabeça que é destroçada

Extravasa quaisquer artes

Foi assim que ela ficou

Depois do macabro ritual,

Foi tirando seu sangue

Para fazer algo de mal...

Nesse mundo de loucuras

Quem entende o ser humano

Que diz que sabe amar

Mas aos outros vai matando?

O grande fim já se aproxima

Mas nunca chega a alegria

Que dure um pouco além da

Duração de um breve dia...

V

Diz ai entre tua escrita

Àquela mãe que ainda chora

Indica o lugar onde procurar

E ralata também a hora

Em que o vil vai visitar

Sem entender o que se passa

Entre as forças que o levam

E seus frios olhos só embaça

Confunde seu entendemineto

E ele vai se perder ali também

Pelas mãos dos seres vivos

Que algo de digno ainda têm...

VI

E aquilo foi falando

E rápido anotei...

Qundo o dia veio vindo

Eu me aproximei

De onde estava ouvindo

E nada mais escutei...

Surgiu o grande sol

Que trouxe com ele o dia

E a encomenda entreguei

Só falando o que devia

E da mãe me distanciei

E já longe ia caminhando

Quando me virei

E sentir alguém me seguindo

Por aquela ruas encharcadas

Mas nada eu notei

E como em pensamento

Parecia ouvir baixinho,

"Volta lá naquele lugar,

"E levar mais papel

"Em hora também singular

"Que vamos te relatar

" Mais casos descontecidos..."

O próximo de que ia falar

Envolvia um velho de chapéu...

Não podia me recusar, não podia...

Eu tinha que tirar o véu

E mostrar para os viventes

Que anda acontecendo

Entre a Terra e o Céu....

Quando já chegava em casa

Me voltei e olhei a rua

Que à noite silenciava

E imaginei os seres,

Que também estiveram aqui,

À Noite indo livremente,

Visitando seus parentes...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 13/04/2006
Reeditado em 15/04/2006
Código do texto: T138269
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