A Outra Mão

I

Estava escrevendo um poema

Quando vi a caneta vazando

Uma substância que se espalhou

E no papel foi se acumulando...

E ali foi surgindo uma mensagem

De palavras que eram construídas

Com o puro material humano...

E me espantei, e fiquei olhando,

E demorei um pouco para entender

Que eu tambem não era quem escrevia...

Havia um outro ser, que estava,

com a sua mão na minha mão pegando...

Nem sei se o que senti foi medo

Parecia que já estava esperando

Que se revelasse ao meu ver

Esse que vinha me acompanhando

Me veio os dias em que vagando,

Nas madrugadas divagando,

Perseguia uma voz que do outro

Mundo vinha me chamando

E sem querer também lembrei

Das vezes que estafado sucumbia

E me perdia em sono profundo

E no sonho continuava procurando

Num lugar de coisas nebulosas

Em que tudo ia se inebriando

Eu ia perseguindo aquela voz

A meia distância me chamando

E acho que foi por isso que

Não fiquei tão assustado

Ao se revelar a leve mão

Do ser que já era esperado...

II

E ele presente lá estava

A querer algo de mim

Mas todo não se revelava

E se posicionava assim

Seu braço sobre o ombro passava

E com a mão direita ele seguia

Por trás das costas, onde estava,

Os traços que a minha mão fazia

E eu não sei como ele veio,

Sua silhueta era humanizada

Mas a imaginar ia vendo o ser

De substância desmaterializada

III

E ele em silêncio falava

Estávamos em sintonia

Pude ler seus pensamentos

Que no meu repercutia

E suas vontades eram simples

E isso ele disse sem falar

Eu senti seu pensamento

Como o meu se comunicar

E naquela grande solidão

Em que veio me encontrar

Eu poderia ter estranhado

Sua presença se fazer notar

Mas há momentos densos

em que estamos comovidos

E essas coisas acontecem

E o modo não é conhecido

Quando estamos sentindo

O que não pode ser descrito

Aqui no humano coração

Que se perde em infinitos

IV

E então ele foi dizendo

E eu me esforçava tanto

Para correto escrever

Que tinha ânsia de pranto

E ele uma hora disse,

Dessa humana condição

De ser um entre muitos

Em meio a grande solidão

Que arrasa o coração

Fala ai atraves de palavras

Vamos escreve, vai, vai

Estou aqui pra te ajudar

Dando a força que se esvai

A tua experiência dessa vida

Será aqui muito valiosa

Posto que pode entender

Mesmo com alma tão medrosa

A outros já me revelei

E foram muitos pelo caminho

A quem um dia disse

Que não estava mais sozinhos

E andamos por um tempo

E eles se foram para sempre

E eu fiquei a esperar

Até que visse novamente

Outro que pudesse me escutar

Quando chamava docemente

Pelos mundos que além há

Adverso a qualquer mente

E foste tu que me ouviu

Agora é chegada a tua vez

De falar pros teus irmãos

Cuja alegria não se fez

Vamos, seguro a tua mão

E aqui vamos delinear

Coisas estranhas a muita gente

Que não podem imaginar...

V

E ele assim continuou,

Escreve ai, vai, não pára,

Pois se faz mister saber

Os segredos da madrugada

De onde a agonia há de ser

Para os outros revelada

E eu uma hora perguntei

Quem és, de onde vens?

E ele disse,

Isso ainda não te convéns

Mas por que vem me visitar?

E ele disse,

No futuro saberá

Como me conhece?

E ele disse,

Um amigo não se esquece

Já tive outra vida?

E ele disse,

Olha para tuas feridas

Eu posso em te confiar?

E ele disse,

Jamais vou te deixar

Por que veio me chamar?

E ele disse,

Porque veio me escutar

E assim fui perguntando

Aquele ser transparente

Que respostas foi me dando...

VI

E então fui escrevendo

Assim do jeito como pude

O que ele me confiou

De forma muito amiúde

E escrevi alguns poemas

Onde tudo está relatado

Mas que aqui não conto

Por ser muito dilatado

O conteúdo daquele ser

Que veio em outro dia

E de mim se aproximou

Através de uma agonia

Causada por ver o sofrer

Tanto durante a noite

Quanto durante o dia

Em que estamos a viver

São tempos de revelia

Em que sofre sem parar

Os que já não tem fantasia

E não querem mais continuar

A acreditar que vai vim um tempo

Em que Seres vêm consertar

E cobrar com brutal energia

Daqueles que vivem a enganar...

E será um tempo de encontros

Do pai com o filho cedo ido

Do irmão como o seu irmão

Que foram por aí dissolvidos

Da forma mais covarde que existe,

Através da traição

Dos que lá de seus tronos olham

E estendem sua mão

Esmagando muito dessa gente,

Os que não tem condição

De entender o que se passa

Sob essa velha maldição

Eles estão sendo procurados

E seu tempo está chegando...

Foi o que me disse o ser

Com aquela voz me chamando,

Com a sua na minha mão pegando...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 13/04/2006
Reeditado em 02/05/2006
Código do texto: T138243
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