A Escada

Estava eu perdido

Num lugar silencioso e escuro

Plano e profundo

Procurando

Sem saber que procurava.

Tudo eu sentia

Se vinha um vento

Ou um tremor de terra

Se um cheiro

Ou uma topada

Se um prazer

Ou uma queda

O corpo me dizia.

Mas esse mundo eu não via

Nada dele sabia

Nem mesmo que existia

Nem a palavra

Que o descreve conhecia

Nem a palavra eu concebia

Bati num grande muro (?)

Abri os braços para conhecer

Tateei durante anos

Andando rente

A muralha

Eu não via nada

E as mãos foram se diluindo

Ficando um pouco delas

Aqui e ali

Na ânsia de conhecer.

Pela primeira vez

Vi que tinha olhos

Uma dor tremenda

Como um machado

A dividir meu cérebro

Me invadiu quando

Muito distante

E virando como que uma esquina

Percebi algo que não escuridão

Percebi a própria escuridão

Que há muito estava sempre imerso

Que não sabia que não sabia

Que estava imerso.

Segui, já sem umas das mãos,

Rumo àquela tênue penumbra.

Foram muitos anos de perseguição

Sempre ela a ficar mais distante

Cada vez mais distante

Às vezes até desaparecia

Um dia, cansado,

Estafado de andar

Parei e encostei-me na muralha

Que usava como guia

Na qual minha mão se desfez

E que agora meu braço se desfazia.

Há de se ver nela o grande risco

Longo e dolorido

A meia altura

Que fui fazendo a cada passo.

Parei, fechei os novos olhos

E quando os abri

Vi lá em cima,

Muito longe, muito alto

Infinitamente alto

Alto infinitamente infinito

Um pequeníssimo buraco

De onde provinha aquela

Fugidia e agora real penumbra.

À muralha vi um fina escada,

Apalpei-a com a mão que me restou,

Era uma frágil escada...

Com dificuldade,

O antebraço tinha me deixado

Apóie-me, segurando firme

Com a mão direita,

Um degrau mais alto...

Eu pensei então,

Vou subi, que mal há subi?

E fui então

E foram muitos anos de perseguição...

Mas um dia vi que a penumbra

Se esclareceu

E que o fim então se aproximava

E ouvi sons que pareciam com os meus

Aqueles que só pensava

E eu então disse

Assim meio a esmo,

Tem alguém aí?

Alguém pode me dar uma mão?

O som foi estranho

Mas ouvi alguma coisa se mexendo,

Tiravam algo pesado

E tudo aquilo de baixo eu ia vendo

E então

Surgiu um ser

Alguém assim como um irmão

Que me olhou atravessado

E parecia me estender a mão...

E foi isto que ele fez

Se revelou rapidamente

E eu sentir

Como de sopapo

Ele da escada me derrubar.

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 09/04/2006
Reeditado em 09/04/2006
Código do texto: T136104
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