Dia de Anjo

A queda parecia não ter fim

Via-me caindo, caindo...

Numa cratera abissal

Lutava desesperadamente para não continuar

Mas não adiantava, a queda prosseguia...

Enquanto acontecia,

Passava-se à minha frente

Um filme conhecido

Lugares íntimos...

Pessoas conhecidas, queridas,

Família...

Não acenavam,

Seus rostos serenos, apenas sorriam...

Eu queria parar, conversar...

Mas a queda prosseguia.

Passavam ocasiões da minha vida,

Que há muito eu havia esquecido.

O primeiro beijo, tão envergonhado...

O primeiro amor, primeiro namorado...

Coisas que eu havia começado,

E que nunca havia acabado...

Coisas que eu desejei fazer,

Mas que nunca fiz acontecer...

Via lugares lindos, que tanto desejei conhecer...

Depois de um longo tempo,

Vi-me deitada numa bruma macia...

Não estava ferida.

Levantei lentamente a cabeça

E vi uma grande porta iluminada

Ergui-me e a porta se abriu

Dei alguns passos,

O lugar era magnífico...

Tudo era esplêndido e iluminado

Via agora outras pessoas,

Suas roupas fulgurantes flutuavam

Estavam felizes, pareciam anjos.

Tocavam harpas e cantavam.

Vinham em minha direção,

Eu não sentia medo,

Sentia uma paz indescritível.

Um anjo louro de sorriso lindo

Tomou-me pela mão

Conduziu-me por corredores prateados,

Atapetado de flores e iluminado de cristais,

Entramos num vasto salão

Adornado de cetim e flores brancas nas janelas

Outros anjos se aproximaram

E vestiram-me uma túnica real

Ornaram-me com uma tiara de pérolas

E sorrindo, desejaram-me:

Bem-vindo!

Tornei-me anjo...

Maria Helena S. Ferreira Camilo C. Lucas