Murais de “La Gioconda.”
Porque sorrateira me sondas, Gioconda,
A flutuar, fluídica, em gôndolas,
Se nem sou tua Veneza?
Porque devoras-me com esse olhar cativante
E fazes de meus sonhos
Teus domínios e realeza?
Porque condenaste-me às noites errantes,
Ao direcionar-me enigmático e enfático sorriso,
Ao navegar, assim, exuberante,
Por meus canais fervilhantes
De azimutes imprecisos?
Porque remas, de mim, tão longe?
E dos meus olhos, por ti atentos, não escondes,
Teus irresistíveis encantos…
Ó minha exclusiva Gioconda!
Foi tudo cinismo? Responda!
Pelo que não cessa o meu pranto?
A tua inconfundível imagem, ó midiática Gioconda!
Em uma moldura redonda,
É ícone no meu pensamento,
Como o atalaia que ronda,
Como o trovão que estronda,
A ignorar, por ti, meus ávidos, sôfregos lamentos.
Ó platônica Gioconda,
Não me desdenhes, assim, tão hedionda!
Não banques as ígneas, a incendiar meus tormentos.