Ser contratempo na contramão da contracultura.
Eu queria ser o novelo, para o teu crochê,
A pantufa, para o teu pé aquecer,
E “uma brasa, mora?” nos embalos do "iêiêiê"…
Um cachecol a envolver a tua alma,
A plateia apaixonada a encher-te de palmas.
Queria ser o rococó do teu bordado,
Queria ser o bibelô do seu agrado.
Queria estar com você em Woodstock,
Viajar no psicodélico som do rock,
Viver numa kombi grafitada, em alucinógena poesia…
Queria te levar aos festivais da canção,
Ou num barzinho, com banquinho e violão,
Onde a cultura, genuína, emergia.
Eu queria te mostrar o meu real talento,
Saltar do trem, do bonde, do ônibus, em movimento…
Eu queria te levar nos áureos bailes à fantasia,
Contigo viver os extremos: a gentileza e a rebeldia,
A inviabilizar o deflagrar da aterrorizante “guerra fria”,
E ao dizer: “Bicho, paz e amor.”, a paz de pronto renascia…
E invariavelmente, o amor, o desamor vencia...
Eu queria te mostrar a magia que havia nas fotonovelas,
A rústica beleza a desfilar nas telas e passarelas,
A genialidade dos Beatles e suas baladas mais belas…
A Apollo 11 a aterrizar, na vazia vastidão fria da lua…
E, na penumbra de um cinema,
Esquecer todas as cenas,
Ao juntar minha boca à tua.