O DESPERTADOR IMPLACAVEL



 




 
Certa noite, viajando debaixo do edredom encantei-me com duas estrelas que flutuavam no céu como se estivessem correndo na minha direção.
Passei a fixá-las com firmeza e as segui conforme podia com os olhos arregalados. Parecia que bailavam na minha frente e eu encantado vez ou outra as perdia de vista. Desse encantamento mentalmente decidi que ia cortejar e namorar uma daquelas simpáticas estrelinhas. Certamente aquela que estivesse mais fácil e ao meu alcance. Tudo transcorria bem e tranquilo. Eis que surge a lua com todo o seu esplendor e magia, Alcoviteira como sempre me fez recuar e refletir.
Como eu poderia escolher uma única estrelinha entre tantas para cortejar e namorar diante da nudez alucinante de uma lua cheia, tão formosa, tão bonita, tão faceira?
Não. Eu não podia agir sem pensar e com açodamento.
Ah! Quanta duvida... Suspirei fundo e resmunguei mentalmente indagando.
O que é que eu posso fazer? Como escolher uma estrela correndo o enorme risco de desagradar à lua e acabar sozinho na escuridão e na negritude da noite?
Baita situação difícil. Foi então que tudo acabou de vez. Complicou-se mais. O dia estava raiando. O sol, nossa estrela maior surgiu radiante quando soou o alarme e o tilintar do relógio se fez presente. Acordei esbaforido, mas imediatamente me pus em pe. Ora das medicações rotineiras da madrugada. 
O despertador foi implacável.