Almas Gêmeas

 

Na janela do meu quarto trago um cigarro,

Um atrás do outro em descompasso,

Meus olhos vidrificados acompanham a fumaça,

Meu cigarro não é um baseado mas,

Leva-me a vários estágios de mim.

 

Pela janela suicída caem meus sonhos,

Empurro-os todos enfileirados, secos, pardos,

Contorço-me em cada piscar das estrelas.

Lá dentro forte cheiro de fumaça,

Lá fora forte cheiro de trapaça,

Nesse instante trapaceio comigo mesma.

 

Hoje matei a sede no rio dos meus olhos

Entre a fumaça do cigarro e o cantar da coruja.

O silêncio não foi quebrado.

Da janela do meu quarto universalizo

Porque falo comigo, me verbalizo.

 

Componho na cordas do violão uma canção quadrada,

Num violão a muito abandonado 

Para ela que componho, para minha alma gêmea,

Meu outro lado menos frágil expondo.

 

Faço essa canção nas dobras da noite

Palpeando às paredes minadas da alma,

Quebrando às esquerdas do ego

E traçando um futuro eloquente.