Viagem com o vento
Um dia pedi-lhe boleia, aceitou
Instalou-me no cockpit, entregou-me os comandos
Partimos sem rumo, às vezes corríamos velozes, outras de mansinho
Subimos e descemos, planámos sobre altas montanhas,
Descemos a profundos vales, sentimos o tórrido dos desertos e o frio dos pólos
Observámos o azul dos mares, o verde das florestas e o ziguezaguear dos rios.
Tocámos as nuvens e quase chegámos às estrelas.
Com o sol nos deitávamos, com ele nos levantávamos
Visitámos as grandes metrópoles e as pequenas aldeias.
Levámos aqui e ali a mudança do tempo.
Refrescámos e aquecemos.
Provocámos o medo.
Apreciámos todas as grandes realizações humanas
Fomos testemunhas de grandes catástrofes e de mil e um eventos
A viagem corria célere, eu ia mudo de tanto esplendor, cedi os comandos.
Sentei-me ao seu lado e o vento disparou: aceitas ser meu copiloto para sempre?
Hesitei, hesitei, agradeci a viagem e retorqui: Aquele pontinho reluzente que vês lá em baixo tem, para mim, a grandeza do mundo, vou voltar para lá.
Virgílio Moreira (VIDIMOR)