Surreal.
Essa rua que intriga,
Ladeada de estranheza
Um poeta ela abriga,
Que lhe tece em sutilezas.
De repente é avenida,
De repente é um beco,
De repente um mar de vida,
De repente um poço seco.
Nessa rua não se passa
É como o visgo a reter
Quem com ele se engraça,
Com um olho que não vê.
Sem vitrines, sem esquinas,
Sem passantes, sem calçadas,
Sem biquínis, sem meninas,
Sem berrantes, sem boiada.
Essa rua surreal
Que não tem onde chegar
É uma escada sem degraus
Sem um chão para pisar.
Nessa rua inexplicável
Todos passam sem tropeço,
Não há nada tropeçável,
Tudo é certo e ao avesso.
De tão reta é profana,
Nem possui encruzilhada,
De tão longa desengana
Quem não tem longa passada.
Desprovida de encanto
Do ocaso, da aurora,
De um pássaro, de um canto,
Só meu sonho a decora.
Essa rua tão imensa
Que nos mapas se esconde
É vulnerável e propensa
Às venturas que lhe sondem.
Que dizer mais dessa rua
Que se perde nos critérios,
Essa rua às vezes nua
De segredos e mistérios?
Essa rua delirante
Que o absurdo abriga
É deveras fascinante
Quem quiser nela prossiga.
Mas essa rua surge e some,
Como a fenda da ferida,
Essa rua tem um nome,
Essa rua é minha vida!