NEGRO! (20 de novembro, Dia da Consciência NEGRA!)
Eu sou NEGRO,
NEGRO do palanquim!
Da África foi d´onde vim,
E a língua tupiniquim;
Aprendi com esforço sim!
Eu sou NEGRO,
NEGRO que aqui anda!
Do Saravá, da Umbanda,
Da capoeira malandra;
Do Continente de Luanda!
Eu sou NEGRO,
NEGRO do navio negreiro!
Cheguei aqui e fui o primeiro,
Trabalhador forçado inteiro;
Nesse país estrangeiro!
Eu sou NEGRO,
NEGRO do submundo!
Em qualquer parte do mundo,
Chego logo e fecundo;
E a boa semente, abundo!
Eu sou NEGRO,
NEGRO da cabeça decente!
Escravizado e descendente;
Das loucuras sou descrente;
Odiado e carente!
Eu sou NEGRO,
NEGRO abandonado!
Ébano massacrado;
Na sociedade, mascarrado;
Porém não desanimado.
Eu sou NEGRO,
NEGRO Cristão, ou Islã!
Faço parte desse clã,
Duma coisa não sou pagã;
Redargüir-me da Ku klux klan!
Eu sou NEGRO,
NEGRO sem favor!
Tenho raça, credo e cor,
Distribuo sem pavor;
O mais belo e puro amor!
Eu sou NEGRO,
NEGRO do desemprego!
Num cavalo sem pelego,
Da sessão do descarrego;
E não luto com galegos!
Eu sou NEGRO,
NEGRO da cara lisa!
Você chega e analisa,
Que minha tese não avisa;
Nem a Reis ou Monalisa!
Eu sou NEGRO,
NEGRO do nariz achatado!
Não como nada enrolado,
Sou matuto, sou engravatado;
Na Lei Áurea, abonado!
Eu sou NEGRO,
NEGRO do beiço carnudo!
Da “NEGA” não me desgrudo,
Dos filhotes eu cuido tudo;
Ainda fico maludo!
Eu sou NEGRO,
NEGRO do peito de aço!
Aqui quem cai, faço um regaço,
Gosto do estardalhaço;
Reduzindo tudo em bagaço!
Eu sou NEGRO,
NEGRO do pé rachado!
Ando descalço e cansado,
Nada de ficar parado;
Feito poste fincado!
Eu sou NEGRO,
NEGRO de grande mastro!
As mulheres me acham astro,
Da índole não me castro;
Minha fama é um alastro!
Eu sou NEGRO,
NEGRO dos carnavais!
Futebol e festivais,
Acompanho os atuais;
Sempre querendo mais!
Eu sou NEGRO,
NEGRO dos cafezais!
Da cachaça e canaviais,
Sou tropeiro, sou anais;
Homem de voltar jamais!
Eu sou NEGRO,
NEGRO conseqüente
E não paulatinamente
Trabalho bem a mente
Também chego à presidente!
Eu sou NEGRO,
NEGRO dos cantores!
Dos poetas e escritores,
Apareço em todos os setores;
Vivo de sonho e amores!
Eu sou NEGRO,
NEGRO de não negar a raça!
Não fico zanzando na praça,
Fujo de toda desgraça;
No Divino achei graça!
Eu sou NEGRO,
NEGRO do lado escuro!
Imprensado no muro,
Visto como monturo;
Galgando o meu futuro!
Eu sou NEGRO,
NEGRO cancro da sociedade!
Poderoso em humildade,
Cheio de felicidade;
Com muitas qualidades!
Eu sou NEGRO,
“NEGÃO NEGO, NEGUINHO”!
Vai depender do jeitinho,
Vai depender do carinho;
Lá fora ou no ninho!
Eu sou NEGRO,
NEGRO que vive contente!
Lançando a boa semente,
Frisando minha patente;
Eu sou NEGRO. Eu sou gente!
OSIASTE TERTULIANO DE BRITO
21/11/2007
Loanda – Paraná