Em sua Homenagem
Retirei o tapa-ouvidos noturnos;
Pois preciso cutucar as feridas da loucura que só aparecem com os rumores do dia;
Com o marulhamento do mar;
Com o silêncio da Floresta;
Com a súplica da Natureza;
Com o borbulhar da chaleira requentando o café;
Com ácidos corroendo as vísceras ulceradas pelas gorduras;
Com os anéis de fumaça dos cigarros pitados;
Com o arsenal de remédios tarja preta não tomados;
Com o orvalho gotejado pela folhagem;
Com o mugido da vaca mansa;
Com o errado sendo a resolução correta da sentença matemática;
Com o coração implorando perdão à adaga que o punhalou;
Com os vermes esperando pelo resfriamento do sangue do esquife;
Com a flor heliotrópia que procura o sol em dias nublados;
Com o rugido feroz e rascante dos felinos, prestes a devorar a presa;
Com a mansidão resignada dos mortos;
Com a paz reinante nos cemitérios;
Com o hospício, denominado "Fuzilando Essências".
Mansa ou atroz, a algoz loucura caminha ao meu lado,
Com passos curtos ou apressados,
E não sei em qual esquina ela vai me beijar.
Um ataque psicótico é amenizado, só cicatriza, com outro ataque psicótico de maior intensidade.
O que seria da inspiração, se não houvesse a poesia?
O que seria da poesia, se não houvesse a Natureza?
O que seria da Natureza, se não houvesse a inspiração?