Em sua Homenagem

Retirei o tapa-ouvidos noturnos;

Pois preciso cutucar as feridas da loucura que só aparecem com os rumores do dia;

Com o marulhamento do mar;

Com o silêncio da Floresta;

Com a súplica da Natureza;

Com o borbulhar da chaleira requentando o café;

Com ácidos corroendo as vísceras ulceradas pelas gorduras;

Com os anéis de fumaça dos cigarros pitados;

Com o arsenal de remédios tarja preta não tomados;

Com o orvalho gotejado pela folhagem;

Com o mugido da vaca mansa;

Com o errado sendo a resolução correta da sentença matemática;

Com o coração implorando perdão à adaga que o punhalou;

Com os vermes esperando pelo resfriamento do sangue do esquife;

Com a flor heliotrópia que procura o sol em dias nublados;

Com o rugido feroz e rascante dos felinos, prestes a devorar a presa;

Com a mansidão resignada dos mortos;

Com a paz reinante nos cemitérios;

Com o hospício, denominado "Fuzilando Essências".

Mansa ou atroz, a algoz loucura caminha ao meu lado,

Com passos curtos ou apressados,

E não sei em qual esquina ela vai me beijar.

Um ataque psicótico é amenizado, só cicatriza, com outro ataque psicótico de maior intensidade.

O que seria da inspiração, se não houvesse a poesia?

O que seria da poesia, se não houvesse a Natureza?

O que seria da Natureza, se não houvesse a inspiração?

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 03/09/2019
Reeditado em 08/09/2019
Código do texto: T6736012
Classificação de conteúdo: seguro