A CANÇÃO DE MEDEIA
Chamei-a de louca e infortunei meus desejos;
Pude sentir-me amargo na fúria dos lobos;
Lambendo-me como porcos na sarjeta do vômito da terra;
Um semente plantada e brotando no caos;
E como um pássaro lilás voei sobre a escuridão;
Cantei o assobio das sereias do mar morto;
Eu era apenas o Jasão a perambular por entre paredes frias.
Chamei-a de santa para aflorar meus desejos;
E assim perceber que afogava-me num lago vermelho;
Brotando sangue das profundezas correntes;
Estando eu desnudo para o cinzento céu;
E perambulei nu pelas estradas de Tessália;
E tentei chegar em Corinto em festa molhada.
Ah! foi em Atenas que eu desfrutei meus desejos de sal;
E bebi da fonte da vida ao lado das cobras rastejantes;
Pássaros a voarem como carcarás rasantes;
Num voar sobre minha cabeça uma coroa de espinhos;
Todavia fiz o meu ninho para alimentar minha lida;
Recolhi-me à morte e morri fatigado na sina.