Vento na Cabeça
Andava sempre aérea, alheia a tudo e a todos.
Diziam que eu era louca, meio tonta, meio boba.
Quando falava, parecia difícil, profundo,
Como quem mergulha bem ao fundo.
Não porque quisesse,
Ninguém aprovava quem falava assim,
Era chato, reprovável,
Era o único jeito que conhecia de pensar e dizer as coisas.
Minha mãe dizia de mim:
Essa menina carrega vento na cabeça,
Andando e vagueando a vida inteira.
Carregava mesmo vento na cabeça,
Meio doida, meio louca, no limite de tudo,
Enchendo, com tudo trazido do vento,
De vidas a cabeça,
Vida de gente, de bicho, de herói, de vilão,
Cheia de histórias na cabeça, trazidas do vento,
Prontas para saltar pra fora à qualquer lápis vindo à mão, descido no papel.
Mas tarde, bastava tocar nas teclas do computador, ou do celular,
Pras histórias, pras Marias, pras Rosinhas, pras Meninas da Fita Amarela, pras Cinderelas,
Virem surgindo, fluindo, correndo, prontas pra nascer,
Todas bem-vindas, do vento, da cabeça.
Ninguém sabe ainda quantas doideiras tenho aqui dentro
Trazidas do vento...
Marta Almeida: 24/05/2019