FRUTA ENVIDRAÇADA

O rumor imóvel e monótono da madrugada

desperta-me;

sensação exausta de lua cheia

e insônia:

geléia de morango que como com gula

infantil,

a lamber os dedos vermelhos de fruta

envidraçada.

Gotas esparsas de outono não polvilham as rosas

amendrontadas,

exibindo meio sem graça cores apagadas antes

vermelhas,

que não grudam nos olhos cerrados

do amanhecer,

não despertos pelos sons de sapatos caminhando na rua

inexistentes;

Somente eu recomeço o viver ontem desinterrompido

sozinho;

chamo a Maria para trazer-me café quente

e conversa,

mas nem tenho serviçal humilhada

a soldo,

eu mesmo lavando os fundilhos das palavras

usadas;

Pareceu-me ouvir no rádio sinais de vida

inteligente:

- não! não era nada que valhesse

a pena,

nada que remova a tristeza que insiste em esgueirar-se pela

janela fechada,

apenas ecos de bombas estúpidas e dizeres

obscenos.

- por Hans Gustav Gaus, fantasma de um pirata holandês dos tempos de Maurício de Nassau, heterônimo de JL Semeador de Poesias, na madrugada de 23/03/2016 -