UMA ARANHA ATRÁS DA PORTA

Há uma aranha

de dezesseis patas

escondida atrás da porta.

Há um coágulo assassino

grudado em minha aorta.

No fundo do quintal

onde havia uma horta

está sepultado um menino

de calça curta

e coberto por uma folha de jornal

pedaço do caderno infantil

do Correio da Manhã.

A aranha cedo ou tarde

planeja me devorar.

O coágulo covarde

faz-se de inofensivo

preparando o infarte.

A sepultura do menino ninguém visita

por pensarem que está vivo.

O jornal já não existe

assassinado por um golpe militar.

Nenhum sonho nas páginas da revista

de O Globo aberta no chão sem claridade.

- por JL Semeador de Poesias, na tarde de segunda-feira, 09/03/2015 -