poemas, poeiras e besteiras sem eiras nem beiras

1.

é a poesia sempre

querendo roubar só o belo:

da paisagem as flores

da mulher o prazer

da vida os doces e deleites

mas não vê onde pisa

2.

há tantos desenganos

e desassossegos

nos meus tropeços

que as vezes

esqueço

e fico olhando os brilhos

dos teus olhos

da sombra do aflito

o soturno me cresce tanto

que falta ar

e aí solto os todos os bichos

para respirar

na rua

as vezes a sede é tanta

que quero beber o suor

da tua nudez

pelos poros da tua pele

3.

recolho tanto soturno

que as vezes amanheço

mais cedo

as ausências me alimentam

que engordo

de tanta falta

4.

poesia é exuberante

inspira e serve como luva a tantos

é fonte para muitas sedes

força viva

motivo e lenitivo

riso menino

rio que não sabe para aonde corre

as vezes se dá

em cachoeira

ou em conta-gotas

à sede

as vezes é corte

sem norte

rasga-se

como enchente

5.

de sorte pouca

e amor abundante

transbordo para dentro

e fio minha teia

armadilha

de aranha nows próprios recônditos

espreito

arranho-me com espinhos

e meus venenos

são também antídotos

pra qualquer feito

me enfeitiço fácil

com cheiros

e lembranças

me embaraço

embaço como vidro no frio

fácil

mas naõ me engano

disfarço

e traço reto

enquanto torto por dentro

cambaleio

o excesso entorno

trituro

rilho entre dentes

quieto

e até sorrio para a platéia

6.

eu sou o que resta

dessa mistura

pó do pó do universo diverso

o dentro da pedra

a aba do vento

tritura de tudo

areia

rio abaixo

busco

quiçá um pouso de beira de mar

7.

os textos teus

o subtexto

e o contexto

o verso e o submerso

subverto

o aparente

o vento

o quente

o que fica dentro

mergulho

sonho de fazer junto

poesia

é quase igual a amor

a dois aflora

vulcão

corre

lava

leva

completa

luva

serve

sirva-se

sorva

se me puder

e couber

8.

poemas seus são mui quentes

e gostosos

tesos e abertos

me chamam

é bom queimar um pouco

a pele

freqüentar teus textos

estes teus vãos

e vales

entre as palavras

beber

as letras claras

e as difusas

a sede

as palavras de vento

e vôos

e os teus textos molhados

pela manhã

a verve confusa

dos teu personagens

a margem

da tua vida

essa lida

essa vale seco

e nuvens ácidas que espalha

e a chuva

de letras e nós

que me cai

lava e leva

pra não sei onde

mas vou.