CORES DE VIOLONCELO

uma matilha de antígonas

seres que vivem nos primórdios

taxam-me de eneágono

esse monstro imaginado

de nove faces e vértices

que devora framboesas

antes de se fazerem maduras

na castidade das manhãs

devoradas pela névoa

mas não há nenhum cheiro de verdade

no que é afirmado

nos jornais amarfanhados

que embrulham legumes e tamancos

na quitanda de um português

que se diz chamar Manuel

nada venturoso

na tarde

que ameaça cair

não muito parecida

com o antigo viaduto

a se esgueirar sorrateira

por entre as folhas ausentes

do meu pé de goiaba favorito

insinuando cores de violoncelo

em meus ouvidos dormentes

prestes a anoitecer. . .

- por JL Semeador de Poesias, no anoitecer fingido de 27/06/2014 –