Nas horas mortas
São quatro da manhã - pra quê tantos relógios?
Se me basta o envenenado espetar de um só ponteiro
enquanto avança a madrugada...
Nada de mais - ademais o silêncio é que atordoa
enquanto a aranha se assanha no canto esquecido da parede
e tece sua teia indiferente qual fosse um destino...
Eu - menino - em pleno vôo apanhado, calado,
colhido e tolhido de quaisquer movimentos...
(nem ousa o pensamento e não se mexe!)
Minha alma finge-se de morta
enquanto entra sob a porta, sorrateiro e indesejado,
o frio do outono/inverno...
São quatro e meia...
Ponho nos pés frios um tardio par de meias já puídas –
como a vida puída sem meias-verdades...
Lá fora a lua míngua distante e calada;
minguada também é a mensagem que se perde:
Merde! (em bom francês, mas também fede!)
E a madrugada avança indiferente
ao penetrante dardo (ponteiro) no bardo diletante...
A sede não cede - nem a fome!
- Pede-se não fumar! - Nem tome água...
nem tome da mágoa envenenada!
- Tome vergonha, pamonha! Esqueça o necrológio! Esqueça
o martelar da consciência na cabeça
e quebre de uma vez esse relógio...