Nas horas mortas

São quatro da manhã - pra quê tantos relógios?

Se me basta o envenenado espetar de um só ponteiro

enquanto avança a madrugada...

Nada de mais - ademais o silêncio é que atordoa

enquanto a aranha se assanha no canto esquecido da parede

e tece sua teia indiferente qual fosse um destino...

Eu - menino - em pleno vôo apanhado, calado,

colhido e tolhido de quaisquer movimentos...

(nem ousa o pensamento e não se mexe!)

Minha alma finge-se de morta

enquanto entra sob a porta, sorrateiro e indesejado,

o frio do outono/inverno...

São quatro e meia...

Ponho nos pés frios um tardio par de meias já puídas –

como a vida puída sem meias-verdades...

Lá fora a lua míngua distante e calada;

minguada também é a mensagem que se perde:

Merde! (em bom francês, mas também fede!)

E a madrugada avança indiferente

ao penetrante dardo (ponteiro) no bardo diletante...

A sede não cede - nem a fome!

- Pede-se não fumar! - Nem tome água...

nem tome da mágoa envenenada!

- Tome vergonha, pamonha! Esqueça o necrológio! Esqueça

o martelar da consciência na cabeça

e quebre de uma vez esse relógio...

Poeteiro
Enviado por Poeteiro em 13/05/2007
Reeditado em 13/05/2007
Código do texto: T485688