POETA DE UM SÓ EU
Andei bisbilhotando o passado.
Malgrado lembranças, engraçado...
só achei azuis.
Tristeza, momentos de dor,
desprazeres...nada disto existe mais.
Interessante essa arqueologia.
Nem aqueles eus todos, cheios
de ranço, não-me-toques e
trejeitos de pavarotti desafinado
encontrei.
Nada mais dessas coisas marrons
estavam presentes nesse passado.
A impressão é que me libertei
de tantos meios-tons e que as
paisagens remanescentes só
existem em cores fortes após
tão atlântida descoberta.
Melhor o egocentrismo de um eu só.
Que seja, portanto, azul.
Como azul é o sangue do poeta,
imortal enquanto dure.