Rascunho do Novíssimo Testamento

Alugue-me outra coisa superior à morte,

Pois nada basta durante o filme,

Nada satisfaz enquanto as causas

Necessitam dos efeitos para existirem

Decifre-me os hieróglifos que recentemente

Rabisquei durante meu pesadelo diário,

Mate-me se for preciso, mas só enquanto respiro,

Seja meu amigo ou seja estrangeiro.

Fiz juras sem o devido equilíbrio adequado,

Misturei alienações e pretensas majestades,

Te ouvi com orelhas murchas e todas as distâncias,

Nenhum pedido de desculpa terá forma suficiente.

Por isso, agora sou um andarilho sedentário,

Criador de um território novo, porém desértico,

Aparentado com a ilha móvel da esquizofrenia,

Mas que é outra coisa muito além do que ela mesma.

Sussurre-me receitas tristes a serem esquecidas,

Traga-me frascos com elixires extintos,

Serei sempre grato ao seu carinho indiferente,

Tudo me alcança, me estupra e também me infla.

Falar é mais do que preciso, hoje o silêncio é crime,

As sílabas, ainda que brutais, são luzes alienígenas,

As pausas, pigarros e gírias alimentam o vazio,

Produzindo matérias e metafísicas sem livros.

13/02/2012

EDUARDO NEGS CASTRO
Enviado por EDUARDO NEGS CASTRO em 13/03/2012
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