Noite

Sombriu-se o sol por não ser mais poente

Escuro véu mente torpe a dissipar

Então cadente ouviu-se vil sussurro

Na fria imagem no céu avermelhar

Não era a noite torporosa que estava,

Rangidos longe ouvidos qual defuntos

Sentidos pertos, intenso calafrio

Destinos ruivos, porém futuros mortos

Mas o que surge detrás desta cortina

Não mais o medo, despido qual espuma

Somente a sombra as dores esculpindo

Não mais na luminosidade bruma

Ó silêncio, tu és a testemunha,

A desventura nos mais carrascos vis

Em tantos gritos, agora por si mudos,

No ar aroma cheiro de véus anis

Se neste vento embora tão parado

Longe um gemido, latido a escutar

Na madrugada o som deste sereno

Desgosto torpe, queria então sonhar

Mas tão real como caveira viva

E no chirrio soturno que vagueia

Pude ouvir em meio a secas folhas

O meu desejo ardente que incendeia

Então, candeia, acesa após a chuva

Como mordaça, ouvindo luz no grito,

Louca, em meio ao mundo insano,

Tão só vagueia: ó louco mundo aflito!