NA ESTRADA DE JACONÉ
No início da viagem
comprei um carrinho-de-mão
e duas mariolas de minas,
um pote de requeijão,
um punhado de castanhas salgadas,
mais duas ou três bobagens.
Comi as castanhas,
por salgadas,
senti sede,
senti medo,
senti escurecer as vistas;
quem joga todas as moedas,
numa única cartada,
tarde ou cedo,
tudo perde.
Depois, na volta do passeio,
voltei a sentir receio,
uma dor desesperada,
que me deu aqui no meio;
e bem no meio da estrada,
que conduz a Jaconé,
me deitei chorando baixinho,
por coisa que nem sei o que é,
mas que me arrepiou inteirinho,
do cabelo ao dedão do pé.
Sai pra lá coisa danada,
vade retro coisa ruim!
Em mim
não farás morada,
vou tomar banho de jasmim,
rezar terço e novena,
te expulsar a chicotada,
não quero essa triste sina
de viver feito zumbi,
zumbindo na madrugada,
como se não fora daqui.
E assim revigorado,
de novo no corpo acordado,
penso no teu sorriso,
no teu ajeitar de cabelo,
no beijo que me faz tanta falta,
dentro do mundo paralelo
que construímos com desvelo,
longe das luzes da ribalta,
no galho da árvore mais alta
da Estrada de Jaconé.
- por JL Semeador, em 1812/2010, na Estrada que liga a Lapa a Jaconé, viagem refeita na madrugada de 25/09/2011 -