INFERNO E PARAÍSO

Ao recostar a cadeira de praia

em paralelo ao céu,

de brincadeira, tripulo uma nave espacial.

O subir não me enjoa.

O mais à toa que posso,

repasso o olhar no que fica.

Um mundo que se apequena.

Não vejo bilhões de seres

a disputar poderes.

Uma serpente em pedra

sim, eu vejo. Vejo também

um verde amazônico.

Um azul oceânico.

Um branco monogâmico.

Traspasso risonho o buraco de ozônio.

A altitude cria um vácuo entre o riso e o sonho.

Mas ainda há uma vasta manta de gás

a proteger epidermes.

A velocidade é encantadora.

E o meu planeta azula,

atolado em seus mares...bares...lares...

atolado em si mesmo.

Há uma poluição de satélites.

Peões silenciosos.

Vejo um lixo espacial não descartável,

mas não vejo corvos...

A nave percorre um itinerário qualquer.

E o paraíso...que direção terá?

Acima, posso esbarrar no teto do céu.

Abaixo, mergulhar em umbrais.

À frente, como acima e abaixo,

ao buscar o bíblico, encontro só alergia

de poeira cósmica.

Não sou capaz de, sem GPS, encontrar

o paraíso e o inferno...

fora da Terra.

Texto republicado.

Faz parte do livro Taça de Cristal,

lançado em 1993.

EDSON PAULUCCI
Enviado por EDSON PAULUCCI em 28/08/2011
Código do texto: T3187604
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