ARCO-IRIS DEVASSADO
José Ribeiro de Oliveira
Fugindo das minhas angustias cotidianas, direcionei meu nariz ao horizonte, rumo ao por do sol. Era tarde já adulta de um sol ameaçado de não se mostrar até o final do dia. Nuvens nimbos se formavam no seu rastro, atalhando seus raios, escurecendo toda a imensidão do espaço e anunciando uma chuva que, pelos gemidos do trovão, já não se tinha dúvidas da sua vinda. E encurtando cada vez mais a distancia entre o infinito do céu e a minha cabeça, no arrufar celestial dos tambores que liberariam as comportas do oceano espacial, estende-se, do meio céu ao encontro deste com a terra, imensa faixa matizada em cores harmoniosas, de tons sobre tons, alargando-se ao pico e com breve estreitamento caudal. Pus-me a contemplar o fenômeno e surpreendi-me com a súbita obediência da natureza ao seu encanto. Nuvens oceânicas, que já despencavam rumo a terra em alarde de um medonho trovão festejo de relâmpagos, eram engolidas como se fossem sugadas por um enorme canudo e levadas para o mar. E de tanto contemplar, desvendei o mistério: tal intervenção era uma contra ordem da decisão tomada pelos astros e revogada quase que intempestivamente, através do arco-íris.