Quarta-Feira
Meio à semana aconchega-se a mim meio da vida
Não sei começo não sei se finda, porém se vai. É quarta-feira.
Não é de cinzas nem é de fogo, tampouco frio, talvez sufoco
Mas chega calma, quase latente, despercebida, um pouco ardente
E o suor que se aproxima e se evapora enquanto passa
Como éter, forte e morte, alucinação em dia ardil
Porque transcende a minha luta, embora passe enquanto astuta
Metade ida, outra a faltar, o que é passado, qual o porvir?
Em meio à força o desamparo, insensível multidão
Na solidão o indivíduo, o tédio e o opaco
Transparece só tristeza, a mágoa e a dor
Por que chega de repente e custa a se entender,
Depois de sólido labuta o que se enfrenta em desafios
Então chega o crepúsculo onde quase nada resta
A não ser as lembranças de um presente por já ido
De um passado longe e mórbido, em futuro então incerto...
Incertezas meio a tanta verdade, ao que se sabe
E ao desconhecido, o incomparável e o intransponível
É meio-dia, meio do dia. Metade ida, metade finda.
Será começo ou o início do fim e o que virá
Existe a dor e o calor, a alegria e o sofrer
Então se esvai com o fluir da lágrima que, seca,
Vezes dor, talvez amor, talvez um pouco cada um,
Que é o que se foi, e o que se passa, não o chegar...
Esta é a vida por completa, metade ida, outra finda
O sentimento e a incerteza a não ser o que se sabe
Quando começa, quando chega, fica e quando vai
Sem idade nem maldade, nem tampouco vaidade
Nem dinheiro, tampouco posses, nem ao menos certas doses
Sem amores, dissabores, e também tampouco flores
Pois é a metade, não só o nascer nem o morrer
Apenas meio: da poesia. Da melodia. Da utopia...