Sereia

Certa vez sonhei com uma delas

Um ser mágico das espumas do mar

Com característico canto, de notas mais belas

Que torna um tolo, o marujo ao encantar

Sonhei que lá passava, em aventura

Por perto de onde uma delas estava

E me dispus a enfrentar a tortura

Reservada a quem ali se encantava

Aquela filha do mar, tal Ligéia, a doce

Com cheiros e promessas no cantar

Para perto das pedras me trouxe

Pretensa que estava a me devorar

Mas ela não sabia, que assim como Odisseu

Aproximava-me sabido de sua reputação

Avisado de sua fama, devidamente estava eu

E de Hermes e Atena, trazia a proteção.

A deusa da sabedoria me tornou precavido

E postou seu escudo diante de mim

Sabiamente, do cantar protegeu meus ouvidos

Permitiu que eu chegasse perto, e assim

O deus dos ladrões, negociantes, diplomatas

Tornou meu discurso, hábil, quase insano,

Contornando o seu canto com palavras exatas

E desviando atenção do meu verdadeiro plano

Que era agarrá-la, virar, e pelas omoplatas

Forçar contra as pedras a sua vaidade

Firme em seus cabelos, cavalgar meu poder

Deixá-la envolvida, e diante de minha vontade

Pusemos as rochas da ilha a tremer

E sob os auspícios do Olimpo a olhar

Pude transformar parte peixe em mulher

E a cantoria não mais pôde me encantar

Já que não cantava, só gemia o quanto quer

...E por meses durou o encontro

Entre o seu encanto e a minha vontade

E não houve entre deuses ou monstros

Outro embate, com tal qualidade.

E quando deixei aquele trecho do litoral,

Uma história tinha ficado pra ser contada

Havia uma sereia naqueles bancos de coral

Que não devorou, e sim foi devorada.