A NOITE DOS CRISTAIS PARTIDOS

Estradas paralelas

percorrem meu corpo

como duas linhas iguais

mas equidistantes.

Sou tudo o que há e o

que não há

paralelepípedos

no raso de meus olhos.

Paredes com pregos

seguram quadros

com retratos mortos

em cinzas maleáveis.

E eu percorro o corredor

com estátuas eminentes

que sobem a escadaria

em direcção ao quarto.

Máscaras lá dentro

recolho uma ao acaso

e me maquio em

um novo sangue.

Saio à rua onde tudo é

disforme e grotesco

um homem se recusa andar

completamente alienado.

E as crianças na sua macia

infância brincam com

o desgraçado

atirando-lhe pedras.

Cães uivam à lua

quando tudo parece

rasgado pelo silêncio

é a noite dos cristais.

A fogueira vai queimando

os livros que os nazis

negaram a luz do dia

e a cultura vai nua.

Meus olhos sangram

é preciso a ferida

para saber como foi

e como será doravante.

Jorge Humberto

17/06/10

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 18/06/2010
Código do texto: T2326988
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