Inquietação

Inquietação II

Inquietação das multidões.

Ânsias de agora a matar a fome

de outrora.

E o agora passa assim como se fosse

Ditado pelo passado.

Liberdade! Liberdade!

O que é isso afinal.

É por de lado o fardo pesado.

Reinventar outra forma de aqui estar.

É perceber que podemos levitar.

Que podemos acima desta fome,

desta febre, deste cio ficar.

Arre! A humanidade está cansada.

Discursos de cidadania, de civilização

onde falta pão. Quanta enganação!

Chega de rostos magros, olhos esbugalhados

a olhar para os lados, gente suja, esfarrapada

a virar lixeiras em busca de nada.

Chega de gente a roubar, matar para a sua

raiva saciar. Chega de gente a subir a descer

vielas, morada de toda a sorte de mazelas.

Chega de gente à margem do mundo, forçando

a porta, querendo entrar. Chega do horror, do pavor

deste sofrimento para além da dor.

Chega de pobreza, de miséria.

Chega de sistemas morais irreais, querendo nos

convencer de que uns são menos e outros mais.

Os tais, de carne e osso, a todos iguais.

Lita Moniz