UTOPIAS CONSTRUIDAS NA AREIA
Descreio da madrugada
e da minha insônia
e de tudo o que se move no escuro
e, até, da minha alma, invadida
pela nostalgia
de um tempo antigo, sem muro.
Descreio das balas perdidas
dos pensamentos vazios
das ofensas inúteis
das ilusões abortadas
em espetáculos ridículos
encenados por tristonhos seres robóticos.
Descreio da própria falta de crença
e das utopias construídas na areia
e das guerras justas e santas
e dos homens-heróis de um só dia
movidos por uma flama, que logo passa
escoando-se pelo ralo, junto com outras porcarias.
Descreio, enfim, da inclinação do eixo da Terra
dos dias de sol e chuva
do pesadelo que me deixou a mente atordoada
da conta da vida, que vem e me ferra
aprofundando, em mim, o desejo, que me cai feito uma luva
de me fundir à sirene da ambulância que passa anunciando a alvorada.
- por JL Semeador -