É o Medo
Certa vez sonhei
Que no divã sentado
Fui de repente indagado
Qual o problema que tinha
Qual a dúvida-rainha
Que me mantinha empacado?
No sonho, em terapia
Os meus problemas desfiando
As hipóteses levantando
Mas tampouco eu sabia.
Diferença, não fazia...
O problema, segundo Freud
(Ou quem quer que seja),
Era um só, ele me dizia.
"O problema, meu jovem, é um só."
Diga-me agora,
E não pare pra pensar!
Não diga de forma organizada,
Nem deveras exemplar:
Diga-me, sem a menor reflexão
Qual é teu problema, então?
Nessa hora olhava eu,
Através do corredor escuro
Pra cozinha iluminada
E eis que assim, sem nem avisar
Aparece no chão, de repente
O gato preto, olho amarelo a brilhar
Arrepiando coração e mente,
E fez eu dizer a quem perguntava:
O medo! É o medo. É o medo...
Acordei num susto, molhado a suar.
Coração a galope, sem freio nem espora
E a poucas ruas, perto de minha casa,
Na hora do susto, na mesma hora,
Mataram um cara numa briga de bar.