Testamento radical
Testamento radical
Você diz que sou radical,
E agora não sabe dizer se isso causou mal,
Talvez não fosse como tal,
Tal qual esse seu radical.
Mas me sinto assim,
Como um animal,
Vivo ou morto,
Agora não importa, sou um racional irracional,
Radical.
E dado como morto assim,
Faço logo por fim,
Meu testamento final.
O meu doce dia de sol,
Deixo para os perdidos na noite,
Minha meiga noite,
Deixo para os inundados de luz,
Afinal sou racional.
Deixo meu ar para os afogados,
Meus olhos para os cegos,
Minha existência para os inexistentes ausentes,
Minha inexistência para os que fingem existir,
Porque sou irracional.
Para os velhos deixo minhas futuras rugas,
Para o velho Sartre minha angustia,
Para os corajosos minha fuga,
E para os covardes minha força bruta.
Porque afinal, sou um animal.
Deixo meu amor para os mal-amados,
E minha dor para os que amam,
Para os poetas minha falta de letra,
Para os mudos e calados, meu grito de liberdade,
Meu trabalho sofrido, para os homens livres,
E minha liberdade afinal,
Para todo ser que é animal, racional e irracional,
Assim como eu, que você diz ser radical.