Flutuo no rumo do chão profundo

sinto perder o peso e comigo se vão

os rochedos

que eram contrafortes ora em vão

arrebatam-se ondas

e mais leve ainda vôo e vou

adentro do profundo ébano rumo ao breu

de teus negros olhos, de íris os arcos tesos

as orelhas e os abanos o cabelo umedecido

sobre a testa pouco vista, caídos

então afundo, de vez, no tapete

rosada está a branca colcha

de um sangue primal, primevo

de Eva em cio coitada primeiro

desempatada, desencantada

destravada a tramela da portinhola

afunda-se também o colchão

e rebentam-se em cores todas

as matizes, as frescas em frascos

antes frígidas as manhãs florais

quentes e úmidas agora já são

gritei

suando frio

fiz soar o sino do navio

a embacação partia

o coração partido,

alado

ia-se em bocados,

abocanhado por fera que dormitava agora

a um lado, deste lado destilado

de fio a pavio percorrido, abusado

na corrida das horas,

dos tempos findados,

fiquei tripulando só

estripulias à parte,

nó por nó

dei de mim por mim, asssim.

E não mais seria preciso

pois ia navegar e viver

no meu mais perfeito juízo,

doendo-me já os joelhos e o dente ciso

ardente fora o cataclisma de bem-me-quer

sem registro algum em catecismo qualquer.

Juli Bauer
Enviado por Juli Bauer em 01/04/2009
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