Sei o meu tamanho, aina não encontrei o meu lugar.
Tô pelo amor e pela paz.
...
Menina pé de palavra
Cida Almeida*
Para reverenciar a surpresa das palavras de Juliaura.
Goiânia - 17/10/2007
Ela chega num pé-de-vento
E não há cortina que resista
Guerreira em flor de Mina
... menina
Ela mina
Toda mina
Conta Mina
Conta o conto
Desconta o ponto
O poemeio
E o poemar de todos nós
Mina tudo
E mina toda
Mina Marte e mina arte
Ela chega pé de tudo
E já não há cortina
Em nada que havia
Há
E hão passando
Passarinzinzim...
Pé-direito nas alturas
Sofreguidão
Essa queda por palavras
Ventania
Ela chega toda cor
Cores quentes
Laranja flamejante
Lâmina cortante verde
Cortantemente
Cantante, cantante...
Piruetas na ventania
No miolo vivo do redemoinho
Comichão comendo a gente
Palavras vermelhas, vermelhas
Pétalas derretendo carmim
Em mi, em mim, em mil
Sol arregalado
E já habitamos as profundezas incandescentes de Marte
Escorremos vermelim, vermelim
Lim, lim de trampolim
Estrepitosa mina a menina
Da mina rara e funda
Da palavra nova e saborosa
Pétalas vermelhinhas de dizer
O verbo fresco na ponta da atrevida língua
Mete o verbo e mete as caras
Estala e estilhaça
Tontura perfumosa
De palavras vertidas de ventanias
Endiabrada mina a menina
Palavras feitas na ventania
Palavras nuas na ventania
No cabelo do vento ela vai e vem
Vai indo... Vaindo... No cabelo solto do mundo
Indo mundo, endos mundos
Moendo tudo
Moenda Mina
Esse susto no vácuo da palavra
Susto surto de surpresa boa soprando
Janelinhas destrameladas
Ventania de menina
Juli, juli, não juro nada
Julipalavramento
Esse júbilo santificado de vida pensante
Entre os dentes a língua viva
A juba encantescente da menina
A fúria vermelha da leoa
Ruge rouge esses tons e sobre tons
Do vermelho intenso
Do vermelho tenso
Do vermelho denso
Do vermelho desce
Do vermelho tece
Do vermelho cresce
Do vermelho trama
Do vermelho boca
Do vermelho engole
Do vermelho sorve
Do vermelho inventa
Do vermelho venta
Do vermelho pétala
Do vermelho miragem
Do vermelho pulsa
Do vermelho catapulta
Do vermelho língua
Do vermelho palavras brotam
Buquê de flores auras
Baixos tons
Vento brando, brisa, aragem, sopro
Juliauramente jubilo abrindo as cortinas
Escancaro as janelas para a ventania
Da menina que mora muito além do dicionário
No começo ignorado de todos os verbetes
No fundo da caixa mágica das palavras
Palavras que constroem os mistérios
Palavras que destroçam os mistérios
Todos os mistérios do mundo
E brinca de inventar flores da língua
Flores de sínteses que me jogam para o escanteio das antíteses
E não atino com a tese nem que o verbo tussa
O enigma
Mas destravo a minha janela
E o verbo torce bem abaixo de todos os umbigos
E o cavalo sempre de outra cor puxa a marcha
No jardim das palavras ela é o trampolim
Para outras galáxias insondáveis naves fora de ninguém
Via Láctea de divertida gramática
Onde tudo é primeirim de inusitado comecim coçar cochicho
Burburinho só dela, só com ela os relampejos
Farfalhar das línguas ágeis
Deus deflagrado no ato da palavra nova
(O verbo, sempre o mistério do verbo primordial!)
Esculpida para o clarão do esbarrão com o outro
Inevitável
Há que amar o perigo da palavra navalha na carne dos sentidos.
E amamos.
Há que amar o diabim do verbo nascendim.
E amamos.
Inevitável
Esse vício de susto e adrenalina das palavras
Da menina que rasga cortinas e nos arrasta na ventania das palavras...
Aí, aproveito as delícias do desequilíbrio de bêbado nas alturas...
E me delicio na corda bamba das palavras
A queda livre na vertigem das palavras que jamais imaginaria
Palavras que acordam os meus sentidos
Palavras que subvertem os meus sentidos
Palavras que aguçam a minha fome de palavras
Palavras que forjam a fogo outros sentidos
Palavras que vão pintando em mim incandescências
Palavras que vão lambendo a labaredas
Palavras que vão sulcando a lavas
Palavras que vão a grotas fundas
Palavras elementares que correm por dentro
Palavras do leito arenoso do rio grande
Palavras que tocam os peixes cegos
Palavras que quedam nas pontas das pedras
Palavras que lavram a minha língua
Palavras que lavram a pedra da beleza
Palavras que escalavram a pedra grande
Palavras que rolam as pedrinhas das miudezas minhas
Palavras que lavam a minha alma
Palavras que me levam para o olho do furacão
Palavras que me devolvem à brisa leve
Na manhã em que caminho pelo poemar da menina
Com a manha das palavras que ela não esconde
E planta em cambalhotas no jardim das delícias da língua
No jardim da ventania onde tudo é permitido
Os pés descalços na grama tenra da palavra
Verdes esmeraldinhas de esperança na poesia
As delícias de se arrancar com as mãos de sonho
As pétalas da flor do verbo que se conjuga com bem-me-quer
Na ânsia das palavras que fazem em mim verão de andorinhas
No calor das palavras que minam quente da lavra da menina
E de janela aberta reverencio o trampolim
As divertidas acrobacias das palavras menininhas
E me contamino de ventania
Vermelhos da língua viva
A voraz língua da menina que chega e pede palavra
Colho as pétalas e as pedras
Atiro ao vento como quem semeia
Poemeio!
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Cida Almeida é poeta goiana, e publicou recentemente seus versos no lindo volume Flor de Pedra.