NINGUÉM ME FALOU DE AMOR

Ninguém me falou

das águas revoltas

dos abismos impiedosos

das serpentes escondidas

nas voltas dos cipoais

dos lobos em seus covis

das palavras estreitas

que guardam sentidos ocultos

impedindo clara compreensão

dos batimentos irregulares

do meu descompassado coração

das trilhas íngremes

onde na noite me perdi.

Nada, nem um aviso sequer

nem uma sombra ao meio-dia

nenhum corpo de mulher

nenhum copo d' água

para a minha sede

nem um grito na garganta

tudo deserto lá fora

todos fugiram da vida

no mais completo desatino

em busca de outro lugar

de cura para a ferida

aberta cruamente na carne

pela navalha afiada

que insistem em chamar destino.

E olha que bem procurei

por um orelhão ou celular

com que eu pudesse pedir

clemência socorro perdão

uma moeda um pedaço de pão

uma pizza endurecida e fria

um táxi no meio da madrugada

que me conduzisse ao incerto

sem acidente ou parada

sem pernas dormentes

pela caminhada

sem conversa sem nexo

sem bala perdida ou achada

sem porra nenhuma

que não fosse

essa nervosa espera

pelo nada.

jlsantos
Enviado por jlsantos em 27/10/2008
Reeditado em 29/10/2008
Código do texto: T1251217