NINGUÉM ME FALOU DE AMOR
Ninguém me falou
das águas revoltas
dos abismos impiedosos
das serpentes escondidas
nas voltas dos cipoais
dos lobos em seus covis
das palavras estreitas
que guardam sentidos ocultos
impedindo clara compreensão
dos batimentos irregulares
do meu descompassado coração
das trilhas íngremes
onde na noite me perdi.
Nada, nem um aviso sequer
nem uma sombra ao meio-dia
nenhum corpo de mulher
nenhum copo d' água
para a minha sede
nem um grito na garganta
tudo deserto lá fora
todos fugiram da vida
no mais completo desatino
em busca de outro lugar
de cura para a ferida
aberta cruamente na carne
pela navalha afiada
que insistem em chamar destino.
E olha que bem procurei
por um orelhão ou celular
com que eu pudesse pedir
clemência socorro perdão
uma moeda um pedaço de pão
uma pizza endurecida e fria
um táxi no meio da madrugada
que me conduzisse ao incerto
sem acidente ou parada
sem pernas dormentes
pela caminhada
sem conversa sem nexo
sem bala perdida ou achada
sem porra nenhuma
que não fosse
essa nervosa espera
pelo nada.