Você disse
Nesta carta que vem de longe para você
Percebi aqui o que andou planejando,
Você diz que ia encontrar um rumo na vida
Que ia se dedicar com a faca nos dentes a uma causa nobre
Com sangue no olho não ia superar todas as pedras do caminho...
Você diz aqui o que se apagou,
O que você não contou,
Está tudo aqui em Letras eternas
O que você disse
O que você não disse...
Você disse que ia se endireitar aqui e ali
Que jamais ia condenar ninguém de novo
Disse que esperaria por um amor
Daqueles que não nos cobra nenhum vintém
Você disse que ia entender tudo,
E depois deixar correr
Mágoas e dissabores
Junto com a primeira hora do Amanhecer
Para não acordar ninguém com o que você disse,
Com os escuros de ti onde
Dormem anjos e monstros, abraçados num noite sem fim...
Para não assustar ninguém,
Na beira da cacimba derrubou o que você disse,
Desde então, mesmo que
Para não incomodar ninguém
Te creste grande alquimista,
Mas desde então nenhuma onça vem matar sua sede,
Não, foi sem transmutação,
Sem sopetões
Sem demais calmaria
Que seus segredos seriam revelados
Em meio a força que faz tudo crescer,
E tudo ficou no ar
Congelando a hora naquele momento
Impedindo que o dia se consumasse,
Ali o dia é um eterno amanhecer,
O que você disse prendeu-se na quarta dimensão
Formando a quinta
E outras mais,
De onde só se podia ouvir palavras soltas,
Xingamentos
Vituperacões
E aqui e ali uma palavra de amor,
Disse aqui que isso seria suficiente para viver para sempre...
Você diz aqui que queria parar de sonhar
E até juro num gesto louco que ninguém decifrou,
Você disse que não acreditaria mais em ninguém,
E se protegeria de certas pusilanimidades,
Você disse que não seria tão covarde,
A ponto de em ti o medo ter muitas entradas,
Você disse que jamais partiria,
Mas teus passos acelerados
Indo e vindo em todas as direções
Formou caminhos e estradas,
Depois tudo ficou deserto por obra de teus pés...
Você disse que jamais me deixaria,
Mas onde te encontrar na há mapas
E eu não sei se fui tu, ou tu é que é eu,
Não sei se isso importa...
Onde moras não há paredes,
Nem camas,
Apenas um porta,
Só porta flexível flutuante
Desaparecível
Onde muitos chegam
E para grandíssima maioria ela se cerra
Neste exato instante