A MENINA NO BARQUINHO
Eu me lembro muito bem
A tarde engatinhava no ar
As ondas vinham do mar,
Para areia se espreguiçar
Eu sempre me colocava
Sentado na velha cadeira
Junto à porta de madeira
Ou no longevo banquinho
Ficava à espera dela
Tão esbelta, caravela
Navegando, de mansinho,
Vinha com o seu barquinho
Dançava sobre o tapete líquido
Com as águas, num balé onírico
A colorir o tão pacífico oceano
Na superfície que era seu plano
Usava como seu sinuoso pincel
A trajetória do barquinho de papel
Quando achava
Que a tinha perdido no olhar
Na imensidão desse mar
O mar se fazia mansidão
E ela tornava
Feliz na sua embarcação
Escoltada por Iemanjá
Que melhor presente
A rainha das águas poderia ganhar
Do que tê-la todo dia a desfilar
Seu sorriso contagiante
No seu quintal molhado
Para que fosse admirado
Vespertinamente, por mim
A cada momento, enfim
A todo instante sem fim
Um dia, ela se foi com o vento
Na maré em movimento
Foi com o fluxo do tempo
Feito um arisco passarinho
Mas deixou o seu barquinho
Quando me lembro, parece que foi ontem
Olhando fixamente para além do horizonte
Vejo-a sorrir do lado de lá
Com uma lágrima no olhar
Eu fico imaginando ela falar
Num momento de carinho:
“Cuida bem do meu barquinho!
Eu volto um dia para buscar!
Eu sou a filha do seu sonhar! ”
© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves
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