MEU SERTÃO

Minha saudade vem de lá:

Onde o sol reina mais forte,

podando do povo a sorte,

que a enxada vai capinar.

Onde o consolo da peleja

é um punhado de farinha

e a cachaça que à tardinha,

mata a fome que viceja.

Onde as mãos tão calejadas

como os torrões do meu sertão,

firmes na virgília do irmão,

rezam unidas, ao céu elevadas.

Minha saudade vem de lá:

Onde a mãe no corpo definhado,

dá sangue no leite pelo filho sugado,

cuspindo na morte que o venha tirar!

Onde a luz da noite é do luar

e a alegria vem das estrelas,

quando os corpos entrevados nas esteiras

sonham que o mundo vai melhorar.

Onde a manhã começa cedo

despertando seus filhos na madrugada,

para que se apressem na jornada,

antes que a seca semeie o medo.

Minha saudade vem de lá:

Onde namorar ainda é pecado

e o amor é que nem melado

-cada vez mais doce ao paladar.

Onde o rapaz de pele curtida

acaricia as cordas do violão,

com os mesmos braços que soca o pilão

nos grãos de café abençoados da lida.

Onde nos galhos da cajazeira

gorjeiam o pardal e a patativa,

em louvor à natureza altiva,

que só sabe lá ser feiticeira.

É de lá minha saudade,

que sangra tão dolorida,

qual parto de vaca abatida,

pela sede de longa idade.

É no meu Nordeste de seca e fome,

de peste e sede, abandono e choro,

que peço à Deus que no estorricado morro,

repouse o corpo que dessa terra come.