Mundo Mágico
Papéis de carta em pastas pretas, desenhos diversos, coloridas letras. Viviane no sofá preto à vontade, doce de leite na colher, numa cálida tarde. Pingos de vela nas beges formigas, sorriso expontâneo, corriqueiras brigas. Peixes torrados na frigideira, bolinhos de trigo, café na chaleira.
Cartas de baralho sobre os tacos, nítido bem-estar, tristeza aos cacos. Besouros em potes de margarina, minutos eternos, infância divina. Som do tambor nas velhas panelas, axé empolgante, no rádio e nas telas. Mãe na cozinha fazendo o almoço, polenta quentinha, na sala o alvoroço.
Chuva fina nas enferrujadas calhas, correria de irmãos, surradas malhas. Armas de plástico na frágil mão, início da noite, polícia e ladrão. Show no Osmar num frio domingo, pirão na vasilha, cortesia e bingo. Taí, beijo-frio e bombom serenata, anos de ouro, saudade que mata.
Eu e Adriano no corredor, bola em disputa, sem ódio ou rancor. Crianças puras em simples casas, ultrapassando limites, no bater das asas. Bagaços de laranja pelos ares, vidros imundos, sob os olhos de Antares. Pai a altas horas em sua missão, mosquitos e pernilongos, mortos pelo chão.
Pedaço de tijolo entre os dedos, amarelinha imperfeita, calmaria sem medos. Barquinhos de chamex pelas barrentas águas, corrida amadora, diálogo sem mágoas. Moedas sobre a geladeira, um minuto de sonhos, à tarde inteira. Bicicleta de carga em rítimo bom, delicioso quebra-queixo, inesquecível som.
Brincadeira hilária embaixo da cama, ser sob a coberta, Kátia imersa à trama. Nafta dormindo no canto da sala, noite sem fim, na sessão de gala. Minuto decisivo na cozinha, manjar dos deuses, ovos com açúcar e farinha. Alegria frente ao marco da porta, bexigas pelo ar, mundo mágico sem volta.
Alexsandro Menegueli Ferreira- 10 de Novembro de 2013