Eita terra, meu Deus!...

Eita terra, meu Deus!...

Sela de couro, arame farpado de cerca

cuia de tacho rachado, mão feita colher

suor respingando, cansaço da vida

aroeira com cana, aguardente bebida

galinha ciscando, capão de mulher parida

não sabe o que é vida, eita vida sofrida!

capoeira de cobra, lajedo de pedra

cabeça de frade, cansanção agourenta

urtiga cortante, lanho sangrando em rompante

duas ou três mulheres, o amor de uma amante

morrer varado em tocaia, grito se ouviu no instante

não para sertão, teu caminho é mais adiante!

a noite de lua, noite de tanto sol

criança chorando, tanto pão noutra boca

não quero gota de medo, quero pingo de água

a tristeza infinita, coração cheio de mágoa

o mar virou massapê, esperança que deságua

sol vai sumir um tiquinho, vem a nuvem e sua frágua!

João e Maria, Bastião e Zabé

família de cangaceiro, parente de pistoleiro

quem não é vai ter de ser, é a vida ou morrer

padre reza na igreja, sertanejo no padecer

promessa pra sempre ter, oração pra não morrer

ninguém faz a sua sina, destino foge ao querer!

sertão matuto, bicho de valentia e brabeza

moça de laço de fita, linda flor mais bonita

o sulista desconhece, quem tá longe não acredita

do amor tanto amor, a paixão feito vindita

um povo que sabe amar, fuga da sorte maldita

tanto amor e tanta fé, que a vida seja bendita!

Rangel Alves da Costa

blogangel-sertao.blogspot.com