Inimigo da minh'alma
Apareceste às escuras, como ladrão da meia-noite,
Relutei, entrementes roubaste meu grácil coração.
Supliquei-te pesarosa: “devolva-o, e não mais me açoite!”.
Destarte, não morrei eu de agrura e entregue à solidão.
Encontraste-me um tanto vulnerável e desprotegida
Sitiou a cidade desolada, penetrou pelas muralhas fendidas.
Os valentes tu mataste, dando o golpe de misericórdia
Semeaste os grãos réprobos: guerra, conflito e discórdia.
No meu aflito e contrito ser pairava destruição e desolação;
Ah, a alegria, doce e aprazível, a qual deveras não a sinto!
Embriaguei meu ser aniquilado e desatinado com absinto,
Tentando, debalde, uma efêmera libertação e satisfação.
Quem és tu, ó causador de intrínseco e indizível pavor?
Os meus olhos afadigados não o podiam contemplar
Aquele que me deixou em esmorecimento sem par!
Vagueando pelo mundo de ludíbrio, imersa em dor.
Enganaste a minha alma com mentiras inarráveis;
Enganador, destruidor e ladrão! Ser abominável!
Cuspir-te-ei da minha boca com repugnância.
Vomitar-te-ei e abjugar-me-ei de dantesca ânsia!
Quando clamei por socorro, eis que veio meu Redentor.
Tirou-me da masmorra onde tu me aprisionaste, ó vil tentador!
Tomou o meu opróbrio, minhas vestes lavou no seu sangue carmesim.
Foi o Rei da Glória, o Senhor dos senhores que se deu por mim!
Bem sei hoje quem tu és: inimigo de minh’alma!
Afrontou-me, despedaçou-me e fez tudo para tirar minha calma!
Pode, ó minh’alma, jubilar! Louvarei e cantarei com fervor
Àquele que morreu para me salvar e libertar: o Senhor!
(Thalita Palassi)