Depurantes dicotomias.
Onde está o teu céu, está teu inferno,
Onde surge o verão, se faz o inverno,
Onde te sentes nu, te vestem um terno,
Onde achas que findas, tu és tão eterno!
Onde alguém te acusa, alguém te redime,
Onde é lauta a comida, é consenso o regime,
Onde há muita palavra, muito pouco se exprime,
Onde há muita soberba, é solo fértil para o crime.
Onde o mar é revoltoso, o marinheiro é astuto,
Onde são duras as lidas, o homem faz-se bruto,
Onde é pesada a faina, o homem é rude, matuto,
Onde é apoteótica a vitória, o homem foi resoluto!
Onde há presença de ódio, há levantes de amores,
Onde volta-se ao pó, os homens crivam de flores,
Onde abre-se um sorriso, são insistentes as dores
Onde o que é de mais sagrado, é colocado em andores
Onde zumbem abelhas, é onde escorre o puro mel,
Onde vige a carência, ocorrem os cuidados do céu,
Onde o dia é fascínio, a noite, de súbito, se faz véu,
Onde há jugos atormentantes, há o Deus que é fiel!